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10 Grandes Filmes dos Anos 90 que Merecem Uma Revisão

1) Olhos de Serpente (Snake Eyes) – EUA – 1998 – Dir. Brian De Palma

Olhos de Serpente (650x272)

2) Enigma do Poder (New Rose Hotel) – EUA – 1998 – Dir. Abel Ferrara

Enigma do Poder (650x327) (650x291)

3) Na Trilha do Sol (The Sunchaser) – EUA – 1996 – Dir. Michael Cimino

Na Trilha do Sol (650x270)

4) Fuga Para Odessa (Little Odessa) – EUA – 1994 – Dir. James Gray

Fuga Odessa 2 (650x309)

5) O Último Matador (Last Man Standing) – EUA – 1996 – Dir. Walter Hill

Último Matador (650x301)

6) Morte Por Encomenda (Red Rock West) – EUA – 1993 – Dir. John Dahl

Morte Por Encomenda (650x321)

7) O Dono da Noite (Light Sleeper) – EUA – 1992 – Dir. Paul Schrader

Dono da Noite (650x282)

8) O Reflexo do Mal (The Reflecting Skin) – Reino Unido/Canadá – 1990 – Dir. Philip Ridley

Reflexo do Mal 2 (650x287)

9) O Sangue de Romeo (Romeo is Bleeding) – Reino Unido/EUA – 1993 – Dir. Peter Medak

Sangue de Romeo (650x310)

10) O Colecionador de Almas (Dust Devil) – África do Sul – 1992 – Dir. Richard Stanley

Colecionador de Almas 2 (650x290)

 


Um Método Perigoso – Dir. David Cronenberg – 2011

“Experiências assim, não importa o quão dolorosas, são necessárias e inevitáveis. Sem elas, como poderíamos entender a vida?”, diz Sigmund Freud (um Viggo Mortensen excelente) em “Um Método Perigoso”. Experiências, dor e desejo também são necessários para entender o cinema de David Cronenberg, já que esses são os elementos principais da obra do cineasta canadense desde os seus primeiros trabalhos. Para Cronenberg, o sexo sempre representou o desejo que move as pessoas, capaz de transformá-las tanto psicologicamente, quanto fisicamente. Nesse ponto, o diretor compartilha o pensamento de Freud, que sempre defendeu a teoria do sexo como a principal energia motivacional humana.

“Um Método Perigoso” acompanha o desenrolar de um triângulo, não necessariamente amoroso, entre Freud,  Carl Jung (Michael Fassbender) principal pupilo do psicanalista austríaco e Sabina Spielrein (Keira Knightley) paciente e amante de Jung. A história mostra a relação entre Freud e Jung até o seu rompimento, com Sabina sendo o principal catalisador dessa separação.

Desde filmes como “Videodrome” e “Mistérios e Paixões”, Cronenberg sempre tratou da relação entre o instinto sexual e seus efeitos físicos nos personagens, chegando ao seu ápice com “Crash – Estranhos Prazeres”. Em seu novo filme, o diretor retoma essa relação, mas desta vez de uma forma muito mais intelectual do que carnal. O diretor não abandona totalmente as suas marcas registradas. Pequenos detalhes como a roupa suja de lama da personagem de Keira Knightley, o prato de comida com aspecto grotesco, ou o corte feito no rosto de Jung por Sabina, remetem as imagens típicas dos filmes de Cronenberg. Mas no geral, o diretor adota um tom mais rígido em sua direção, enquadramentos que primam pela simplicidade, fotografia e direção de arte sóbrias, mas sem nunca cair no mero academicismo.

Dentre os personagens, Sabina  é, a princípio, a que mais se enquadra dentro do universo do diretor. É ela que sofre fisicamente desde a primeira cena, quando está sendo levada ao instituto psiquiátrico, e é ela que sente o prazer através da punição (reflexo de abusos sofridos na infância). Mas quando começa a ser tratada por Jung, percebemos que Sabina é a personagem mais bem resolvida, pois ela tem ciência de sua condição, sabe que o “masoquismo” é que move a sua vida e não tem medo de ser quem realmente é. Com isso, o principal “analisado” aqui é Jung (Fassbender em outra ótima atuação). Com seus desejos sexuais reprimidos em relação à esposa, e a sua amante, e também com sua complicada admiração por Freud (existe uma certa representação de figura paterna), Jung torna-se o personagem mais complexo do filme. O que finalmente liberta o psicanalista suíço é o período em que passa a tratar o Dr. Otto Gross (uma participação pequena, mas fundamental de Vincent Cassel). O comportamento de Gross é o que faz com que Jung se entregue aos seus desejos. “O prazer sempre é simples de encontrar, nós é que preferimos complicar tudo. Nunca devemos reprimir nada”, afirma Otto.

Ao retratar esse aspecto do personagem, a encenação (a mise en scène) de Cronenberg mostra seu poder e ganha um novo significado. Os cenários clean, a fotografia fria, os figurinos brancos, tudo isso serve para mostrar o contraste com os pensamentos mais obscuros da mente dos personagens.  É um jogo de aparências entre o exterior e o interior, e como sabemos, as aparências muitas vezes enganam. O filme mostra que todos nós temos nossos desejos secretos, e entregar-se a eles, nos transformar e sofrer as consequências dessa escolha pode ser algo perigoso.

Se nem mesmo alguém como Jung conseguia controlar os seus instintos, será que nós podemos conseguir? Cronenberg tem certeza de que não, e para a grande maioria, não há nada mais misterioso e perturbador do que isso.

por Leonardo Ribeiro